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corita: a única regra é o trabalho
Alguns meses atrás, passados menos de 15 dias de “quarentena” — esta nova maneira de mensurar o tempo — fiz uma consulta em vídeo, com minha astróloga. Estávamos falando de trajetórias profissionais. Ela desenhou para mim uma distinção entre duas atitudes: a de maestria e a professoral. O mestre seria aquele que, por ventura de sua trajetória e aprendizados, fala para seus discípulos à partir de uma verdade interior; já o professor ensina a partir da escuta, não se colocando no topo, e nem mesmo no centro da experiência educativa; mas sim se entendendo como um veículo, um meio. Pensar sobre essa distinção me fez pensar sobre a Irmã “Corita” Kent.
Nascida Frances Elizabeth Kent (Iowa / EUA, 1918), ela se juntou à Ordem do Imaculado Coração de Maria em 1936, se rebatizando como Sister Mary Corita. Estudou artes visuais, e em sua carreira como artista juntou duas de suas maiores paixões: a técnica da serigrafia e a linguagem da arte Pop de Andy Warhol. Imagino que você deve estar pensando: MAS O QUE???? Em que universo ou fic seria possível combinar uma freira da igreja Católica, um movimento de arte intrinsecamente ligado à cultura de massa, e um artista claramente queer não apenas em sua orientação, mas em sua sensibilidade?! De fato os primeiros trabalhos de Corita, como o que lhe garantiu o primeiro lugar em uma competição de artes do condado de Los Angeles em 1952, representavam temas religiosos de maneira explícita. Eram bastante literais: forma e fundo, anjos, entidades religiosas. Mas dez anos depois, ao ver a exposição da série de latas de sopa Campbell’s de Warhol, ela teve uma… iluminação. Produziu então sua primeira obra Pop: um conjunto de formas abstratas, orgânicas, semi-circulares, em tons vibrantes de laranja e amarelo, e em verdes, carmim. Corita já era autodidata em serigrafia, tendo escolhido essa técnica por dois motivos: queria que sua arte fosse acessível para as massas, e facilmente multiplicável. Mas o descobrimento do Pop alterou seu percurso, e deste ponto em diante ela trabalhou para sofisticar sua voz, e inventar um universo gráfico particular.
A justaposição ou “colisão” entre alta e baixa cultura é um modus operandi comum da arte Pop. Os trabalhos de artistas como o próprio Warhol, Roy Lichtenstein, Ed Ruscha e do brasileiro Claudio Tozzi fazem referência às histórias em quadrinhos, filmes de Hollywood e música popular, ou aos produtos da gôndola do supermercado. Corita também tomava de empréstimo a cultura da rua e do mundo “real”, se inspirando no desenho gráfico de marcas de grandes empresas, de cartazes e outdoors comerciais. Mas seu olhar tensionava essa estratégia de uma maneira ímpar, em sintonia com reformas que o Vaticano propunha para modernizar a instituição da Igreja Católica frente aos seus fiéis, e enxergando na arte Pop uma maneira de expressar e se conectar com os anseios de uma nova sociedade. Corita reproduzia por exemplo passagens da bíblia em inglês em muitas de suas obras, o que teve um impacto no abandono do Latim nas Missas.
Em uma entrevista ela afirmou que “(Por isso) as pessoas escutam música ou olham para pinturas. Para entrarem em contato com a totalidade”. Seus trabalhos emergem desta busca pelo divino no cotidiano, crendo na possibilidade de paralelos entre diferentes contextos. Mas neste estado de euforia religiosa tomam uma abordagem mais crítica, levando em consideração os contextos e preocupações sociais. Sua linguagem e temas caminham em paralelo com as lutas por direitos civis que marcaram muito da narrativa dos anos 60 e 70. Essas camadas por sua vez eram filtradas através de outras tantas referências: a literatura de escritores experimentais como E.E. Cummings (1), ou modernos como Gertrude Stein (2); a abordagem de design do casal Charles e Ray Eames; o cinema de Alfred Hitchcock, a expressividade do artista gráfico Saul Bass. O trabalho de Corita então resultava em uma abordagem de mensagens textuais por vias gráficas. Suas serigrafias quase sempre traziam como protagonistas passagens da Bíblia combinados à slogans políticos, trabalhados visualmente como texturas, acompanhados de formas abstratas coloridas, desenhos de tipografias que tomavam de empréstimo a linguagem comercial, repetições, gestualidade e a sugestão de movimentos, planos e tridimensionalidade. É um trabalho explosivo numa intersecção entre design e arte: fica evidente, ao olhar para qualquer uma de suas obras, a multiplicidade de referências, contextos e discursos sobrepostos.
E é essa estratégia de sobreposições, significados e camadas, a meu ver, que a posiciona não apenas como uma artista Pop (valorizada na época, mas hoje em dia reconhecida como parte do cânone histórico do movimento), mas sim como criadora de uma arte “Informacional”. O resultado de seus trabalhos me parece totalmente em sintonia com as ideias de teóricos como o semiótico Marshall Mcluhan (3) e o ativista Stewart Brand (4), que nos anos 60 olharam para como os meios eletrônicos — a televisão, os primeiros computadores — mudariam para sempre a nossa maneira de existir e nos comunicar. A sensibilidade de Corita parece representar não apenas a cultura de massa como linguagem visual, mas também como discurso: a cacofonia de narrativas e sensações, a velocidade do corte e edição, o tumultuado panorama comunicacional e informacional dos anos 60 e 70. A serigrafia “if i“, de 1969, é um exemplo dessa abordagem: sobre um fundo vermelho misturam-se uma silhueta religiosa em azul (cores que aludem a bandeira dos EUA) em que estão sobrepostas as palavras “crucificação”, “redenção” e “ressurreição do espírito” em alto ou baixo contraste; a frase BLACK IS BEAUTIFUL (Negro é lindo) aparece em preto, acompanhada de trechos de um discurso da ex esposa do ativista Martin Luther King, assassinado um ano antes. Tipografias texturizadas e serifadas estão lado a lado de um texto em letras manuscritas de autoria do escritor britânico Alan Watts5, cujo conteúdo referencia filosofias religiosas do oriente e literatura romântica inglesa. São camadas e camadas de referências, discursos, personagens, paralelos e ideologias, num trabalho que vibra de maneira sinestésica. É visual, mas também auditivo, vocal: é quase possível “escutar” as palavras, seus volumes, tons.
Serigrafia e Arte Pop eram duas de suas paixões, mas a terceira, na qual atuou paralelamente por boa parte de sua vida, era a educação. Foi professora, e chegou a se tornar chefe da cátedra de arte na Immaculate Heart College. Tinha em suas aulas a mesma abordagem vanguardista de sua arte, propondo exercícios não convencionais e em igual sintonia com as discussões de crítica, teoria e sociedade de seu tempo. Entre os convidados que trazia para falar em suas aulas estavam o arquiteto e estudioso Buckminster Fuller6, o casal Eames, e o músico experimental John Cage7 — a quem referenciou em um de seus trabalhos artístico-educacionais mais importantes. Pregadas nas salas de aula e ateliês da instituição, estavam as “Regras do Departamento de Arte do Immaculate Heart College”: uma lista de 10 itens que apresentam um modo de educar zero prescritivo e nada dogmático:
Corita explicitava ali a ética de seu trabalho como educadora, sugerindo como cada um deveria encontrar em si e em sua prática não apenas as perguntas, mas também as respostas para seus questionamentos. A influência das literaturas experimentais e modernas fica explícita em como o item 7: a única regra é o trabalho (mas como ficam as outras 9 então, coitadas?) — grafado maior que todos os outros. Imagino que sua intenção era que ele pudesse ser visto ao longe, imediatamente ao se entrar na sala de aula, como uma espécie de desafio e alento: na dúvida, basta trabalhar. As regras abrangem a todos: alunos, professores. E terminam com a citação de John Cage, que estimulava a quebra das outras 9.
Após um sabático para refletir sobre sua fama e a projeção de seu trabalho, no final da década de 60 ela abandona a Ordem, também por desavenças com os setores mais conservadores da Igreja, que viam em seu trabalho um teor político exacerbado. Funda a Immaculate Heart Community, e segue trabalhando até o final de sua vida, desenvolvendo serigrafias, selos postais, outdoors.
Tese e antítese, todas provocativas e meio paradoxais, as regras de Corita se orientam pelos mesmos princípios que me fazem compreender a múltipla plenitude de sua existência — religiosa, artista Pop e informacional, ilustradora, educadora — como sendo sobretudo de uma atitude professoral. Sempre se entendendo como um meio, um veículo para a palavra, para as linguagens, para as referências, para as regras e as não-regras, para a religião, para a sociedade e as mensagens urgentes, para seus alunos. Não há mulher, não há freira, não há Corita: há apenas o trabalho.
Texto escrito originalmente para o Clube do Livro do Design, disponível no reader da edição de Agosto/2020.
Nascida Frances Elizabeth Kent (Iowa / EUA, 1918), ela se juntou à Ordem do Imaculado Coração de Maria em 1936, se rebatizando como Sister Mary Corita. Estudou artes visuais, e em sua carreira como artista juntou duas de suas maiores paixões: a técnica da serigrafia e a linguagem da arte Pop de Andy Warhol. Imagino que você deve estar pensando: MAS O QUE???? Em que universo ou fic seria possível combinar uma freira da igreja Católica, um movimento de arte intrinsecamente ligado à cultura de massa, e um artista claramente queer não apenas em sua orientação, mas em sua sensibilidade?! De fato os primeiros trabalhos de Corita, como o que lhe garantiu o primeiro lugar em uma competição de artes do condado de Los Angeles em 1952, representavam temas religiosos de maneira explícita. Eram bastante literais: forma e fundo, anjos, entidades religiosas. Mas dez anos depois, ao ver a exposição da série de latas de sopa Campbell’s de Warhol, ela teve uma… iluminação. Produziu então sua primeira obra Pop: um conjunto de formas abstratas, orgânicas, semi-circulares, em tons vibrantes de laranja e amarelo, e em verdes, carmim. Corita já era autodidata em serigrafia, tendo escolhido essa técnica por dois motivos: queria que sua arte fosse acessível para as massas, e facilmente multiplicável. Mas o descobrimento do Pop alterou seu percurso, e deste ponto em diante ela trabalhou para sofisticar sua voz, e inventar um universo gráfico particular.
A justaposição ou “colisão” entre alta e baixa cultura é um modus operandi comum da arte Pop. Os trabalhos de artistas como o próprio Warhol, Roy Lichtenstein, Ed Ruscha e do brasileiro Claudio Tozzi fazem referência às histórias em quadrinhos, filmes de Hollywood e música popular, ou aos produtos da gôndola do supermercado. Corita também tomava de empréstimo a cultura da rua e do mundo “real”, se inspirando no desenho gráfico de marcas de grandes empresas, de cartazes e outdoors comerciais. Mas seu olhar tensionava essa estratégia de uma maneira ímpar, em sintonia com reformas que o Vaticano propunha para modernizar a instituição da Igreja Católica frente aos seus fiéis, e enxergando na arte Pop uma maneira de expressar e se conectar com os anseios de uma nova sociedade. Corita reproduzia por exemplo passagens da bíblia em inglês em muitas de suas obras, o que teve um impacto no abandono do Latim nas Missas.
Em uma entrevista ela afirmou que “(Por isso) as pessoas escutam música ou olham para pinturas. Para entrarem em contato com a totalidade”. Seus trabalhos emergem desta busca pelo divino no cotidiano, crendo na possibilidade de paralelos entre diferentes contextos. Mas neste estado de euforia religiosa tomam uma abordagem mais crítica, levando em consideração os contextos e preocupações sociais. Sua linguagem e temas caminham em paralelo com as lutas por direitos civis que marcaram muito da narrativa dos anos 60 e 70. Essas camadas por sua vez eram filtradas através de outras tantas referências: a literatura de escritores experimentais como E.E. Cummings (1), ou modernos como Gertrude Stein (2); a abordagem de design do casal Charles e Ray Eames; o cinema de Alfred Hitchcock, a expressividade do artista gráfico Saul Bass. O trabalho de Corita então resultava em uma abordagem de mensagens textuais por vias gráficas. Suas serigrafias quase sempre traziam como protagonistas passagens da Bíblia combinados à slogans políticos, trabalhados visualmente como texturas, acompanhados de formas abstratas coloridas, desenhos de tipografias que tomavam de empréstimo a linguagem comercial, repetições, gestualidade e a sugestão de movimentos, planos e tridimensionalidade. É um trabalho explosivo numa intersecção entre design e arte: fica evidente, ao olhar para qualquer uma de suas obras, a multiplicidade de referências, contextos e discursos sobrepostos.
E é essa estratégia de sobreposições, significados e camadas, a meu ver, que a posiciona não apenas como uma artista Pop (valorizada na época, mas hoje em dia reconhecida como parte do cânone histórico do movimento), mas sim como criadora de uma arte “Informacional”. O resultado de seus trabalhos me parece totalmente em sintonia com as ideias de teóricos como o semiótico Marshall Mcluhan (3) e o ativista Stewart Brand (4), que nos anos 60 olharam para como os meios eletrônicos — a televisão, os primeiros computadores — mudariam para sempre a nossa maneira de existir e nos comunicar. A sensibilidade de Corita parece representar não apenas a cultura de massa como linguagem visual, mas também como discurso: a cacofonia de narrativas e sensações, a velocidade do corte e edição, o tumultuado panorama comunicacional e informacional dos anos 60 e 70. A serigrafia “if i“, de 1969, é um exemplo dessa abordagem: sobre um fundo vermelho misturam-se uma silhueta religiosa em azul (cores que aludem a bandeira dos EUA) em que estão sobrepostas as palavras “crucificação”, “redenção” e “ressurreição do espírito” em alto ou baixo contraste; a frase BLACK IS BEAUTIFUL (Negro é lindo) aparece em preto, acompanhada de trechos de um discurso da ex esposa do ativista Martin Luther King, assassinado um ano antes. Tipografias texturizadas e serifadas estão lado a lado de um texto em letras manuscritas de autoria do escritor britânico Alan Watts5, cujo conteúdo referencia filosofias religiosas do oriente e literatura romântica inglesa. São camadas e camadas de referências, discursos, personagens, paralelos e ideologias, num trabalho que vibra de maneira sinestésica. É visual, mas também auditivo, vocal: é quase possível “escutar” as palavras, seus volumes, tons.
Serigrafia e Arte Pop eram duas de suas paixões, mas a terceira, na qual atuou paralelamente por boa parte de sua vida, era a educação. Foi professora, e chegou a se tornar chefe da cátedra de arte na Immaculate Heart College. Tinha em suas aulas a mesma abordagem vanguardista de sua arte, propondo exercícios não convencionais e em igual sintonia com as discussões de crítica, teoria e sociedade de seu tempo. Entre os convidados que trazia para falar em suas aulas estavam o arquiteto e estudioso Buckminster Fuller6, o casal Eames, e o músico experimental John Cage7 — a quem referenciou em um de seus trabalhos artístico-educacionais mais importantes. Pregadas nas salas de aula e ateliês da instituição, estavam as “Regras do Departamento de Arte do Immaculate Heart College”: uma lista de 10 itens que apresentam um modo de educar zero prescritivo e nada dogmático:
Regra 1 — Encontre um lugar em que você confia e tente confiar por um tempo.
Regra 2 — Deveres gerais do estudante: Retire o máximo de seu professor. Retire o máximo de seus colegas.
Regra 3 — Deveres gerais do professor: Retire o máximo de seus estudantes.
Regra 4 — Considere tudo como um experimento.
Regra 5 — Seja autodisciplinado. Isso significa encontrar alguém sábio ou esperto e escolher segui-lo. Ser disciplinado é seguir de uma boa maneira. Ser autodisciplinado é seguir de uma maneira melhor.
Regra 6 — Nada é um erro. Não há vitória nem falha. Há apenas o fazer.
Regra 7 — A única regra é o trabalho. Se você trabalhar isso te levará a algo. São as pessoas que fazem todo o trabalho a todo o tempo que um dia entendem as coisas.
Regra 8 — Não tente criar e analisar ao mesmo tempo. Estes são processos diferentes.
Regra 9 — Seja feliz quando você conseguir sê-lo. Divirta-se. É mais fácil do que você imagina.
Regra 10 — “Estamos quebrando todas as regras. Até mesmo as nossas regras. E como fazemos isso? Deixando bastante espaço para quantidades X.” John Cage
Dicas úteis: sempre esteja por perto. Venha ou vá para tudo. Sempre vá às aulas. Leia tudo o que você tiver em suas mãos. Veja filmes cuidadosamente. Frequentemente. Guarde tudo – pode ser que seja útil mais tarde. Deve haver novas regras na próxima semana.
Regra 2 — Deveres gerais do estudante: Retire o máximo de seu professor. Retire o máximo de seus colegas.
Regra 3 — Deveres gerais do professor: Retire o máximo de seus estudantes.
Regra 4 — Considere tudo como um experimento.
Regra 5 — Seja autodisciplinado. Isso significa encontrar alguém sábio ou esperto e escolher segui-lo. Ser disciplinado é seguir de uma boa maneira. Ser autodisciplinado é seguir de uma maneira melhor.
Regra 6 — Nada é um erro. Não há vitória nem falha. Há apenas o fazer.
Regra 7 — A única regra é o trabalho. Se você trabalhar isso te levará a algo. São as pessoas que fazem todo o trabalho a todo o tempo que um dia entendem as coisas.
Regra 8 — Não tente criar e analisar ao mesmo tempo. Estes são processos diferentes.
Regra 9 — Seja feliz quando você conseguir sê-lo. Divirta-se. É mais fácil do que você imagina.
Regra 10 — “Estamos quebrando todas as regras. Até mesmo as nossas regras. E como fazemos isso? Deixando bastante espaço para quantidades X.” John Cage
Dicas úteis: sempre esteja por perto. Venha ou vá para tudo. Sempre vá às aulas. Leia tudo o que você tiver em suas mãos. Veja filmes cuidadosamente. Frequentemente. Guarde tudo – pode ser que seja útil mais tarde. Deve haver novas regras na próxima semana.
Corita explicitava ali a ética de seu trabalho como educadora, sugerindo como cada um deveria encontrar em si e em sua prática não apenas as perguntas, mas também as respostas para seus questionamentos. A influência das literaturas experimentais e modernas fica explícita em como o item 7: a única regra é o trabalho (mas como ficam as outras 9 então, coitadas?) — grafado maior que todos os outros. Imagino que sua intenção era que ele pudesse ser visto ao longe, imediatamente ao se entrar na sala de aula, como uma espécie de desafio e alento: na dúvida, basta trabalhar. As regras abrangem a todos: alunos, professores. E terminam com a citação de John Cage, que estimulava a quebra das outras 9.
Após um sabático para refletir sobre sua fama e a projeção de seu trabalho, no final da década de 60 ela abandona a Ordem, também por desavenças com os setores mais conservadores da Igreja, que viam em seu trabalho um teor político exacerbado. Funda a Immaculate Heart Community, e segue trabalhando até o final de sua vida, desenvolvendo serigrafias, selos postais, outdoors.
Tese e antítese, todas provocativas e meio paradoxais, as regras de Corita se orientam pelos mesmos princípios que me fazem compreender a múltipla plenitude de sua existência — religiosa, artista Pop e informacional, ilustradora, educadora — como sendo sobretudo de uma atitude professoral. Sempre se entendendo como um meio, um veículo para a palavra, para as linguagens, para as referências, para as regras e as não-regras, para a religião, para a sociedade e as mensagens urgentes, para seus alunos. Não há mulher, não há freira, não há Corita: há apenas o trabalho.
Texto escrito originalmente para o Clube do Livro do Design, disponível no reader da edição de Agosto/2020.
10.07.2020
Categoria: Ensaios
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