Guilherme Falcão




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POEMÓBILES
Livro de Artista, 1974, 1984, 2010



... E num piscar de olhos as letras ganham vida, a tipografia se move — e o fenômeno não é de hoje. Muito antes do CSS, do After Effects ou até mesmo do Power Point existiram os Poemobiles. Colaboração entre o poeta concreto, crítico e tradutor brasileiro Augusto de Campos, e o artista gráfico, professor e pesquisador espanhol Julio Plaza, o livro-caixa-objeto foi publicado pela primeira vez em 1974. O diálogo começou em 1969, quando Plaza edita "OBJETOS", também um livro-caixa em que formas planas se tornam "coisas", explodindo em cor tridimensional no espaço por meio de dobras. Convidado para escrever um prefácio crítico Campos decide fazer um poema, que o artista então também transformou em objeto. A colaboração se aprofunda anos depois nos 12 Poemobiles, em que a interdisciplinaridade entre arte e design se desdobra num material que é para ser lido, mas também visto e manipulado. Palavra é forma, espaço se torna movimento, e literatura é... animação. Chega-se ao limite em que não é possível mais dizer onde o trabalho do artista gráfico termina e o do poeta começa. Soma-se a isso a interferência do leitor-espectador é gatilho de possibilidades de significado: Não / Ser / Impossível / Não / Ser ou Possível / Um Possível / Possível ou Não / Possível / Ser / Um Possível / Não / Possível Ser etc. Chance se torna Change por uma leve intervencão cromática, se sobrepondo a Words que também podem ser Worlds — e a relação entre Chance e World ou World com Change — ou o OVO / VOO que sugere o pássaro em rasante. Princípios simples de recorte resultam em complexos resultados, e conferem ao Poemobiles uma falta de pretensão estranha ao universo fetichizante das artes visuais. O fato é que Poemobiles se aproxima muito mais da serialidade industrial do objeto de design, evidente na materialidade do papel, o índice da dobra e a geometria do vinco, a sensação da cola. E ao se manipular é impossível que se desvincule daquele sentimento que o design gráfico parece nos dar: o de se ter encontrado algo muito precioso por pura casualidade.







16.04.2020
Categoria: Design em Contexto Link


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